Entre funcionários, prestadores de serviço e sobreviventes, 45 pessoas
já foram ouvidas pelas autoridades na intenção de entender as causas da
tragédia
Por
Fred Justo, Ivan Raupp e Marcel Lins —
Rio de Janeiro

Funcionários do Flamengo relatam que aparelho de
ar-condicionado do Ninho do Urubu teve curto
Mais de um mês depois do incêndio no Ninho do
Urubu, que vitimou 10 jovens das categorias de base do Flamengo, surge uma
informação importante para o andamento da investigação. De acordo com
depoimentos dados à polícia e obtidos pela reportagem, um ar-condicionado do
alojamento que os meninos dormiam teve um curto-circuito e pegou fogo dois dias
antes da tragédia.
Entre funcionários, prestadores de serviço e
sobreviventes, 45 pessoas já foram ouvidas pelas autoridades na intenção de
entender as causas do acidente. Uma delas é Adalberto Lourenço. O monitor que
trabalha no Ninho do Urubu revelou que operários que trabalhavam na obra do CT
2 gritaram dizendo que um ar-condicionado do alojamento estaria pegando fogo.
Adalberto foi ao local, desligou a chave-geral e depois conseguiu identificar
qual era o aparelho queimado.

Incêndio no Ninho do Urubu vitimou 10 jogadores das
divisões de base do Flamengo — Foto: GloboEsporte.com
A manutenção dos ar-condicionados era de
responsabilidade da Colman - Serviço de Refrigeração, empresa que funciona
dentro da sede do clube, na Gávea, Zona Sul do Rio de Janeiro. O dono da
empresa é Edson Colman, que há 28 anos presta serviços para o Flamengo.
Em seu depoimento, Colman diz que esteve no Ninho
no fim de janeiro para uma manutenção de rotina e retirou dois aparelhos para
uma revisão mais detalhada, mas não trocou nenhuma peça e os reinstalou. Um
desses aparelhos foi o que pegou fogo no dia seis, dois dias antes da tragédia,
mas que tinha sido controlado. Colman foi chamado no próprio dia seis e para
restabelecer o funcionamento do aparelho fez uma emenda de reparou com fita
isolante.
Segundo a perícia, o incêndio começou no
ar-condicionado do quarto seis, onde todos os meninos que dormiam conseguiram
escapar. Depois, um curto-circuito no quarto de número 4 teria gerado um
segundo foco de incêndio. Os cinco garotos que dormiam lá morreram.
O fogo se espalhou desses dois focos para o resto
do módulo habitacional, provocando mais cinco vítimas fatais. Ainda de acordo
com a perícia, o ar-condicionado que teria pegado fogo dois dias antes seria o
do quarto 3 - ou seja, um aparelho diferente dos que causaram a tragédia.

Funcionários colocam a bandeira a meio mastro no
Ninho do Urubu — Foto: André Durão / GloboEsporte.com
Outro fato revelado em depoimento foi dito pela
assistente social do clube, Gabriela Maia. Funcionária do Flamengo desde
setembro de 2017, ela afirmou para a polícia que não tinha nenhuma informação
sobre a utilização daqueles módulos habitáveis como alojamento.
O inquérito que vai apontar as causas e os
prováveis culpados pelo incêndio e pelas mortes teve o prazo inicial de 30 dias
prorrogado por mais 60. Segundo o especialista em direito criminal Ricardo
Sidi, tanto Edson Colman, responsável pela manutenção dos aparelhos de
ar-condicionado, como representantes do Flamengo podem ser responsabilizados
criminalmente.
A reportagem entrou em contato com Bernardo
Monteiro, diretor de comunicação do Flamengo, que disse que o clube só iria se
manifestar após a exibição da matéria no Esporte Espetacular. Edson Colman
também foi procurado, mas informou por meio de sua advogada que não iria se
manifestar.
A resposta do
Flamengo em nota oficial
Com relação à
matéria veiculada no programa Esporte Espetacular, da Rede Globo de Televisão
deste domingo, o Clube de Regatas do Flamengo esclarece:
1. Dois dias antes
da tragédia ocorrida dia 8 de fevereiro no Ninho do Urubu, um dos aparelhos de
ar condicionado do módulo habitacional apresentou defeito.
2 . Imediatamente
após o problema ter sido detectado, foi chamada a empresa de manutenção, que
retirou o equipamento, fez o devido reparo, colocou o aparelho de ar
condicionado em teste durante mais de 4 horas e liberou o equipamento para uso.
3 - A empresa de
manutenção, Collman Refrigeração Ltda, é fornecedora contratada pelo Flamengo
há mais de 28 anos, sem nunca ter apresentado qualquer problema na prestação
dos seus serviços durante este longo período contratual.
4 - O Flamengo
reafirma que, além de dar todo o suporte às famílias, tem como prioridade
colaborar no esclarecimento de todos os pontos desta tragédia, a maior do Clube
em seus 123 anos.
Para isto, não
medimos esforços no apoio ao trabalho dos Bombeiros e da Polícia. Ao nosso ver
são eles, e não pessoas que não possuem todas as informações necessárias para
uma análise responsável, que com amplo conhecimento técnico poderão
efetivamente dizer o que ocorreu.
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